Filho no banco de traz do carro, pergunta ao pai enquanto este dirigia:
-Pai, você viu aquela mulher?
Pai meio absorto nem responde, trânsito pesado de cidade grande, cansaço, tinha pego o filho na escola, tarefa que não lhe comprazia tanto.
-Pai?
-Que foi?
-Aquela mulher, como ela consegue carregar aquele saco gigante na cabeça e ainda em cada mão uma sacola grande ?
Pai meio sem paciência e além do mais não gostava de passar naquele bairro pobre …
-Ela é artista, ganha muito dinheiro fazendo isso, tá de boa.
-É mesmo?
Pai queria matar o assunto, com aquela brincadeira de humor tosco e desprezo.
-Mas pai, como é que ela consegue ? não deixa cair nada, você viu?
-É artista!
-Você falou que ela é rica?
-É, tá até se divertindo; até lata d’água na cabeça ela também consegue levar.
-Pai, porque você não aprende isso com ela?
-Pra que filho?
-Daí você não precisava mais ir pro seu trabalho, ficaria menos nervoso, brincaria mais comigo e ia ter bastante dinheiro também pra comprar aquele carrão vermelho que você fala que só rico tem, a Ferrari. Quantas que ela deve ter, né?
No primeiro posto de gasolina o homem para o carro, deixa no abastecimento, sai com o filho e entra na loja de conveniência. Tomam sorvete juntos, enquanto o pai ganhava conveniente tempo. Queria mesmo apagar o recente acontecido. Até estava se sentindo meio mal.
Tempos mais tarde, dois anos depois, o pai um pouco mudado, viaja ao nordeste com o filho e a esposa para visitar a família há muito deixada para trás.
Na pequena roça de sertão, na caatinga quente, pobre e humilde, onde os pais viviam da cana e da mandioca, são recebidos e o menino chora ao ver a vó que chegava ao mesmo tempo, vinda de um nada no meio da poeira com uma enorme lata d’água na cabeça para abastecer a casa de taipa e sapé.
O filho pródigo voltou!
Quinto Zili
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